Slaves to Armok: God of Blood Chapter II – Dwarf Fortress

Muita gente tem me perguntado: “Diego, seu aventureiro excêntrico, por que você não tem atualizado o blog direito?!” Bem, por três razões. Em primeiro lugar, a videoanálise de Mirror’s Edge está tomando bem mais tempo do que eu esperava, porque é realmente difícil fazer todas as imagens parar colocar no vídeo, especialmente visto que o vídeo em si tem mais de seis minutos. Em segundo lugar, eu ainda estava com algumas provas e trabalhos pendentes para entregar até hoje, mas agora que isso foi resolvido, posso me concentrar nos assuntos do blog com mais calma. Mas a terceira razão, a principal razão, e a qual eu gostaria de comentar aqui, é um jogo chamado Slaves to Armok: God of Blood Chapter II – Dwarf Fortress.

Antes que você me pergunte como é o Slaves to Armok I, eu já vou responder que não sei. Ele nunca chegou a ser lançado, e pelo que é dito na internet, não tinha absolutamente nada a ver com o seu sucessor. Slaves to Armok: God Of Blood Chapter II – Dwarf Fortress, ou apenas Dwarf Fortress como é popularmente conhecido, é um jogo para computador lançado em 2006 pela Bay 12 Games, e desde então atualizado constantemente. O jogo é gratuito, e sua versão mais recente está disponível para download aqui.

Mas antes que você vá babando de alegria baixar o jogo, deixe-me te avisar que se você é um fanático por gráficos avançados, uma boa trilha sonora e controles imersivos, esse jogo não é para você. Dwarf Fortress é (pasmem) um jogo em DOS usando caracteres ASCII. Sim, isso mesmo que você leu. Então, se você é um cara sem a mente aberta que acha que um jogo não vale a pena ser experimentado só porque não foi lançado por uma gigante corporativa como Nintendo, Microsoft Games, EA, Sega, Activision, Ubisoft ou Valve, simplesmente feche os olhos até essa resenha acabar. Sério, essa análise não é para você. Vá dar uma volta, preparar o almoço para o seu cachorro e passear com a sua namorada, ou o contrário.

Ele já foi? Ok, ótimo. Continuando:

Dwarf Fortress provavelmente não possui gráficos atraentes porque os desenvolvedores não têm capital suficiente para fazer esse tipo de coisa. Mas eu também acho que tem outro motivo: o jogo é tão completo e cheio de detalhes, que colocar gráficos de ponta nele faria até um computador da NASA ficar sobrecarregado e explodir. Sério, eu acho que o tipo de tecnologia capaz de simular tudo que o jogo simula ao mesmo tempo que faz gráficos atraentes é o tipo de tecnologia que só será possível daqui a uns 6 ou 7 anos. Não, eu não estou exagerando.

Mas é claro, por mais que eu defenda o fato do jogo ser bom mesmo tendo gráficos medonhos, ainda assim nem eu aguento ficar horas olhando caracteres ASCII brilhantes em uma tela preta de DOS sem meus olhos começarem a sangrar. Felizmente, alguns fãs do jogo resolveram lançar versões não oficiais com gráficos melhores. Eu, pessoalmente, uso essa aqui.

Mas então, de volta ao jogo em si. Dwarf Fortress se passa em um mundo ao estilo de O Senhor dos Anéis. Oh, desculpe, por acaso eu disse um mundo? Não, isso faz o jogo parecer menos do que é. Antes de começar a jogar pela primeira vez, o jogo precisa criar um mundo, sendo que ele pode fazer isso randomicamente, ou a partir de ordens suas. Por exemplo, um dos meus mundos é mais ou menos assim:

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O quê, você está achando isso feio? Hey, essa é a versão com gráficos melhorados!  Dá uma olhada nos gráficos originais:

Eu nem sei o que era pra isso ser!

Mas enfim, o gerador de mapa é uma das razões por que ainda é praticamente impossível fazer um jogo completamente em 3D. Ele é absurdamente complexo. Simula a erosão, a ação do clima, dentre outras coisas. Depois que o mapa em si é montado, ele ainda gera uma história para o mundo, que por padrão é de 200 anos, mas pode ser alterada se você quiser. E, se durante qualquer momento desse processo, o game encontrar qualquer inconsistência no mapa, ele o deleta e começa tudo de novo.

Depois que o mapa está pronto, é hora de começar a jogar. Atualmente, o jogo tem 3 modalidades: Dwarf Fortress (Fortaleza Anã), Adventurer (Aventureiro) e Legends (Lendas). Mas eu fiquei sabendo que em breve também haverá o modo arena, sobre o qual eu não sei o suficiente para escrever aqui.

Então: o modo Aventureiro é basicamente um Rogue-Like. “Diego” – você diz – “O que diabos é um rogue-like?” Bem, basicamente, rogue-likes são jogos de aventura onde o propósito não é propriamente vencer. Isso porque rogue-likes são tão absurdamente difíceis, que a idéia não é evitar morrer, mas sim tentar morrer da maneira mais estilosa e heróica possível (ou pelo menos da mais engraçada). Você escolhe um aventureiro (elfo, humano ou anão) e sai por aí, explorando o mundo e todos os monstros que estão nele. O jogo faz questão de dividir tanto o seu personagem quanto os controlados pelo computador em várias partes de corpo diferentes, o que significa que, quando você ataca um lobo, por exemplo, a descrição é muito detalhada, como “você acertou o lobo feroz enfiando o terceiro molar do lado esquerdo da sua boca no segundo dedo da pata direita traseira dele!” E isso pode render cenas bem engraçadas. Uma vez, eu consegui furar o estômago de um inimigo só jogando uma meia de seda nele. Outra vez, segundo o Lucas me disse, ele tentou atirar uma flecha em uma mosca e acertou um kobold que ele nem sabia que estava lá. E uma certa vez, eu estava jogando como um humano, e 20 segundos depois de começar a jogar, fui atacado por um lobisomem, que fez questão de arrancar cada dedo das minhas mãos e furar meus dois pulmões antes de dar o golpe de misericórdia.

O modo Lendas, aparentemente, é uma versão alternativa do modo Aventureiro, que é mais voltada para a história do mundo. Eu nunca cheguei a me interessar em jogá-la, então a única coisa que vou dizer aqui é que, se está dentro desse jogo, então deve valer a pena dar um olhada.

Mas o verdadeiro trunfo do jogo é a modalidade que lhe cede o nome: o modo Fortaleza Anã. Basicamente, funciona assim: você reúne um grupo de 7 anões, cujas especializações profissionais são escolhidas por você, e depois de escolher um local no mapa e o inventário que deseja usar, você embarca para aquele destino no mapa. Então, de uma maneira um pouco semelhante a Sim City, você deve administrar os anões com o propósito de construir uma fortaleza, que possa crescer tanto quanto possível e ser independente. A parte em que isso difere de Sim City, é na complexidade. Existem tantas coisas possíveis para fazer na fortaleza que você nunca vai conseguir usar todas em um único jogo, não importa o quanto se esforce para isso. Os anões possuem dezenas de profissões diferentes, cada uma usada na produção de algo diferente, e é possível combinar vários itens para fazer algo maior. Periodicamente, imigrantes anões chegam, aumentando a população da sua fortaleza, bem como comerciantes anões, elfos e humanos, tentando fazer negócio.

Uma coisa bem interessante no jogo, é que cada anão tem personalidade própria. Os anões têm seus próprios gostos, e contrariá-los pode ser muito, muito ruim. Se um dois anões se odeiam, colocá-los para trabalhar juntos ou dormirem no mesmo quarto é um movimento ruim. Se um anão não gosta de luz do Sol, mandar que ele trabalhe ao ar livre pode causar melancolia, fazer o anão se sentir deprimido, e até mesmo enlouquecer e se isolar da sociedade. Sim, isso já aconteceu quando eu estava jogando.

Assim como o modo Aventureiro, o modo Fortaleza Anã também é extremamente difícil. Na verdade, o lema do jogo como um todo é “Losing is fun!”, ou seja, “Perder é divertido!”. E realmente é verdade. Não é nada fácil manter a sua fortaleza, e muitas vezes você vai perder da maneira mais inusitada e cômica possível, como um incêndio sem nenhuma razão aparente, ou uma inundação causada porque você mandou seus anões cavarem muito perto de um rio, ou até mesmo uma guerra com elfos, por você ter cortado muitas árvores e roubado as mercadorias deles. Então, como eu disse antes, a idéia não é ganhar, mas sim perder de um jeito tão incrível que você possa ter orgulho de contar para os seus amigos.

Um dos principais problemas no jogo são os controles. Eu precisei jogar durante 3 dias inteiros para conseguir me acostumar com eles, porque são tão confusos e inintuitivos que muitas vezes é fácil se perder. Mas deve-se levar em conta que o jogo é muito complexo para ter controles simples. Além disso, existem tantas coisas no mundo do jogo que seria impossível criar um manual em documento, então o manual foi feito em um site estruturado à la Wikipédia, que você pode ver aqui.

Uma coisa muito interessante de se fazer no jogo é participar de rodízios: uma pessoa cuida da fortaleza por um ano, e então passa para a próxima, que cuida por mais um ano, e assim por diante. De todos os rodízios já publicados na internet, o qe ficou mais famoso foi o a fortaleza de Boatmurdered, que você pode ler (em inglês) aqui.

Então, basicamente, Dwarf Fortress é complicado, tem gráficos feios pra burro, controles inintuitivos, demora para aprender a mexer, e você precisa muitas vezes entrar no site do manual para entender o que diabos precisa ser feito. E eu não poderia esperar nada melhor!

E só como um bônus, alguns fãs têm desenvolvido um pacote para o jogo que permite que você veja a sua fortaleza em 3D, como aqui:

Dwarf Fortress 3d Visualizer por tigsource.

E antes que eu termine a análise, aqui vai a foto de dois dos andares (sim, tem vários andares no mapa, dezenas deles) da minha melhor fortaleza, Elderstone, The Jewel of… Ancients, eu acho:

Sim, eu construí canais subterrâneos ligando o rio aos lagos, para impedir secas.

Sim, eu construí canais subterrâneos ligando o rio aos lagos, para impedir secas.

Os canais construídos ao redor foram usados para repelir invasores e criar uma cahoeira no lado leste do mapa.

Os canais construídos ao redor foram usados para repelir invasores e criar uma cachoeira no lado leste do mapa.

Bem, acho que é só. Como eu já disse, se você gosta de jogos com gráficos espetaculares, isso não é pra você. Mas se você gosta de jogos que sejam simplesmente divertidos, bem… divirta-se! E lembre que, no Dwarf Fortress, perder é divertido!

  1. Finalmente achei algo em português sobre dwarf fortress, que no momento é o jogo que eu mais adoro e mais espero por atualizações, gostaria de ver outro review sobre df aqui
    byebye

  2. Nickolas Daniel

    Legal!!, já tinha ouvio falar sobre dwarf fortress em outro site e dei um pesquisada e achei este otimo blog.

    Logo testarei o dwarf fortress, quando eu parar de jogar Mi necraft.

  3. zé do buteco

    eu nunca pensei que um jogo com um grafico tão simples pudesse ter uma complexidade tão gigantesca. incrivel !!!

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